29.3.06

O albatroz

Às vezes, por prazer, os homens da equipagem
Pegam um albatroz, imensa ave dos mares,
Que acompanha, indolente parceiro de viagem
O navio a singrar por glaucos patamares.

Tão logo o estendem pelas tábuas do convés,
O monarcado azul, canhestro e envergonhado,
Deixa pender, qual par de remos junto aos pés,
As asas em que fulge um branco imaculado.

Antes tão belo, como é feio na desgraça
Esse viajante agora flácido e acanhado!
Um, com o cachimbo, lhe enche o bico de fumaça,
Outro, a coxear, imita o enfermo outrora alado!

O poeta se compara ao príncipe da altura
Que habita os vendavais e ri da seta no ar;
Exilado no chão, em meio à turba obscura,
As asas de gigante impedem-no de andar.

O poema é do Baudelaire, a tradução, se eu não me engano, Ivan Junqueira.
Qualquer comentário, ou explicação do motivo que me levou a colocá-lo aqui, seriam desnecessários.

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